I guess I'll die another day

Porque a vida é feita de avanços e retrocessos, conquistas efémeras e batalhas perdidas, mas cada dia que nasce é uma nova oportunidade.

Tuesday, May 30, 2006

É uma cabra!

Tendo em conta a forma como a Ministra trata os professores, e eu sendo eu professora, só tenho um nome possível: cabra. Quando afirma que a culpa do insucesso escolar é dos professores, e o diz directamente, atacando-nos a todos em conjunto, para fazer títulos dos jornais, só mostra que do Ensino não sabe nada. Talvez saiba de política, porque nada melhor que colocar a opinião pública contra uma classe, para mais facilmente lhe tirar o crédito e o valor. Mas assim como no ensino há bons e maus professores, também há bons e maus ministros. Esta é do pior que há. Não sabe o que é uma escola, nem qual é o trabalho diário de um professor. Hoje já é demasiado tarde para políticas, mas a atitude dela revolta-me.

Thursday, May 25, 2006

Rapidinhas literárias III


"Ele abriu a janela ao meio, o que encheu a sala de ar frio.
- Anda cá Griet.
Poisei o trapo no parapeito e dirigi-me para junto dele.
- Espreita pela janela.
Espreitei. Estava um dia ventoso, com nuvens que desapareciam por trás da torre da Igreja Nova.
- De que cor são aquelas nuvens?
- São brancas, senhor.
- São? - perguntou ele, erguendo ligeiramente as sobrancelhas.
Deitei-lhes mais uma olhadela.
- E cinzentas. Talvez vá nevar.
- Vá lá Griet, consegues fazer melhor do que isso. Pensa nos teus legumes.
- Nos meus legumes, senhor?
Ele moveu a cabeça ligeiramente. Estava outra vez a irritá-lo. O meu maxilar contraiu-se.
- Pensa em como separaste os brancos. Os nabos e as cebolas. São do mesmo branco?
De súbito compreendi.
- Não. O nabo tem verde a cebola amarelo.
- Exactamente. Então que cores vês nas nuvens?
- Há azul nelas - respondi depois de as examinar durante alguns minutos. E... amarelo também. E algum verde! - Estava tão entusiasmada que até apontei. Tinha olhado para nuvens durante toda a vida mas era como se as visse pela primeira vez naquele momento.
Ele sorriu.
- Hás-de descobrir que há pouco branco puro nas nuvens, embora as pessoas digam que são brancas."
Tracy Chevalier, "Rapariga com Brinco de Pérola"

Saturday, May 20, 2006

O regresso ao Taborda


Há oito anos que não ia ao Taborda. A primeira vez que lá fui andava ainda na velhinha Gil Vicente, no meu 12.º ano. Fui lá ver uma peça do grupo de teatro do liceu. Dessa noite lembrava-me que ficava num sítio meio estranho, que era relativamente pequeno e vagamente velho. Na plateia dessa altura estavam resmas de caras conhecidas. Ontem regressei lá. Agora como professora, a acompanhar uma das turmas da noite. Na plateia... caras conhecidas de novo, mas de uma escola diferente. O Teatro é pequeno, mas a sala está muito boa e agora inclui um restaurante com uma vista absolutamente fabulosa para a minha Cidade. Fui a convite da Prof. de Filosofia. A peça: "À Procura de Júlio César." Da filosofia de tudo aquilo confesso que percebi muito pouco, mas ri-me à brava com esta história meia esquizofrénica. E foi bom voltar a fazer o mesmo percurso e rever outras "peças", mas da minha vida.

O método religioso é muito mais fácil...:(

Sunday, May 14, 2006

Editoras & Companhia

Este ano as escolas têm que adoptar um novo manual para o 7.º ano. Segundo a nova legislação sobre manuais escolares, esse manual será adoptado durante... 6 anos (!). Assim sendo, as editoras têm investido bastante na "sedução" dos profs para o(s) manual(ais) que propõem. Tenho ido a alguns desses encontros. Primeiro, porque (in)felizmente o meu horário o permite com alguma facilidade. Segundo, porque tenho sempre alguma curiosidade sobre os rostos por detrás dos livros que me acompanham diariamente. Terceiro, porque me interessa receber os novos manuais à borla, o que é garantido a quem vai a estes encontros. Inscrevi-me sem saber se iria encontrar alguém conhecido por lá. Acabei por ficar surpreendida por encontrar sempre uma ou outra cara familiar: do curso, de escolas por onde já passei, do mestrado. Num destes dias encontrei uma antiga colega da fcul. Quando dei por mim, falámos mais nesse momento do que em todo o tempo da faculdade. Como já não nos víamos há muito tempo, podíamos nem sequer ter falado, podíamos ter começado e encerrado a conversa com um "olá, tudo bem?", como acontece na maioria das situações afins. Mas não foi assim e acabou por ser uma conversa muito simpática. As amizades que criamos têm que ver com afinidades existentes, mas as questões circunstanciais jogam um papel fundamental: it's also about time and place.

Saturday, May 06, 2006

Rapidinhas Literárias II


"Era uma das coisas de que Avner gostava na sua equipa. Por muito diferentes que fossem dele - ou uns dos outros-, não deixavam de partilhar uma característica importante: não complicavam as coisas. Não havia infindáveis "se" e "mas", nem tagarelices intermináveis. Planeavam tudo com cuidado mas não se preocupavam excessivamente com todos os "prós" e "contras" de que as férteis mentes humanas eram capazes de se lembrar, em especial quando alimentadas por um tipo de cautelas que quase equivalia à cobardia. Nenhum deles era assim. Apercebiam-se das possibilidades com um único relance. Se lhes pareciam boas... era tempo de agir!" George Jonas, Munique

Thursday, May 04, 2006

Small things


O meu professor de Psicologia da Educação disse um dia numa aula que os professores não devem depender do ensino para se concretizarem como pessoas. A concretização pessoal não deve passar pela escola, mas sim pelo que existe na nossa vida para além dela: os amigos, a família e todas as outras actividades que realizamos fora do nosso trabalho. Isto porque a Escola/Alunos pode ser muito ingrata. Não é preciso ter muito tempo de serviço para perceber que realmente assim é. Mas por vezes podemos ter o privilégio de chegar a casa com o coração cheio. Aconteceu comigo hoje quando as minhas meninas da disciplina de Saúde me perguntaram a meio da aula, vindo do nada, se eu ficaria com elas para o ano. Parei um momento para olhar para aqueles sorrisos tão característicamente cheios de sonhos, como só na adolescência existem, e custou dizer que não. Ao que se seguiu a discussão do "Mas porque não?", "Não queremos a prof do ano passado." and so on... É bom sentir that we matter. Afinal de contas, passamos mais tempo com os nossos alunos do que com os nossos amigos, e sentir que gostariam nos encontrar novamente no próximo ano fazem sentir valer a pena muita coisa.

Monday, May 01, 2006

Tardes de Sol


Este fim-de-semana fui até à Ericeira. Desde pequena que vamos passear até lá. É uma vila de ruas estreitas, encostada ao Mar. As praias não me apelam muito, mas gosto da vila em si, que me faz lembrar dias de Verão, sem nada para fazer, com gelados, passeios e risos à mistura. Ao fim-de-semana a Ericeira enche-se de gente. É verdade que também se enche tudo de carros, que as esplanadas ficam carregadas de famílias e namorados, mas há dias em que me sinto bem na multidão, sendo apenas mais uma a aproveitar a tarde e o Sol.